A curiosa história da uva Carménère

Por: Fabiana Gonçalves | @escrivinhos

A Carménère é uma uva cheia de curiosidades. Uma delas já começa pela pronúncia do seu nome: se escreve “carménère”, mas se pronuncia “car-mê-nér”. Quando se fala nessa uva, muita gente lembra logo do Chile. É verdade que ela é a variedade tinta mais emblemática daquele país, mas na verdade a origem dela é a região de Bordeaux, na França.

A história da Carménère é muito interessante. Começa lá no século XIX, quando boa parte dos vinhedos da Europa, principalmente os da França, foi destruída por uma praga chamada Filoxera. Depois dessa praga, se pensava que a Carménère – que era uma uva difícil de amadurecer – tinha sido extinta. Só que os franceses não lembravam que por volta de uns dez anos antes da Filoxera, alguns imigrantes levaram a uva de seu país e a plantaram no Chile.

O plantio da Carménère no Novo Mundo foi feito junto com outras variedades, como a Merlot e a Cabernet Sauvignon. Com o passar do tempo, a uva Carménère terminou sendo esquecida ou confundida com a Merlot, que também amadurece de forma mais lenta.

A Carménère então foi considerada extinta. Mas em 1994, um estudioso francês chamado Jean-Michel Boursiquot descobriu que algumas variedades da uva Merlot plantadas no Chile, na verdade eram Carménère. Essa história despertou curiosidade dos consumidores sobre os vinhos feitos com a Carménère e hoje ela é a segunda variedade mais plantada no Chile, depois da Cabernet Sauvignon.

O nome da uva Carménère vem da palavra “carmim”, por causa da tonalidade da cor da sua casca. Os vinhos elaborados com ela são na maioria secos, mas também podemos encontrar meio secos.

Quando colhida no tempo certo, a uva Carménère pode dar origem a vinhos com aromas de frutas maduras, como cereja e ameixa, além de notas de ervas, terra úmida e pimenta preta. Já se for colhida menos madura, aparecem aromas herbáceos e de pimentão verde. Quando são maturados em barris de carvalho, os vinhos feitos com a Carménère podem ganhar aromas de chocolate, café e fumo.

Devido à baixa acidez natural da uva, os vinhos feitos com a Carménère têm um sabor frutado mais adocicado – o que agrada a muita gente que está começando a se aventurar no mundo dos vinhos secos. Além disso, os seus taninos são macios, dando a sensação de facilidade de beber.

A uva Carménère também pode aparecer junto com outras uvas nos  vinhos. Geralmente com a Cabernet Sauvignon e a Merlot. A Cabernet Sauvignon tem taninos mais potentes e pode mostrar mais complexidade que a Carménère. Já a Merlot, apesar de também ser macia, tem mais estrutura no paladar.

Hoje os chilenos já conhecem as regiões com os solos e os climas mais propícios para o plantio da Carménère. São feitos com ela desde vinhos Premium, como alguns Reservas e Gran Reservas, como vinhos mais simples para serem tomados no dia a dia.

Os vinhos Carménère podem ser harmonizados com carnes grelhadas com pouca gordura, peru assado, queijo parmesão e massas com molho ao funghi, por exemplo. Os rótulos mais simples caem bem com pizzas.

Se você ficou curioso(a), minha dica é provar diferentes estilos de Carménère chilenos, principalmente de distintas regiões. Atualmente os vales de Cachapoal e Colchagua estão entre os locais mais propícios para o cultivo dessa variedade.

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