Châteauneuf-du-Pape: o vinho que tem sua origem ligada aos papas

Por: Fabiana Gonçalves |@escrivinhos

A conexão entre o vinho Châteauneuf-du-Pape e os papas é uma das histórias mais fascinantes da viticultura francesa. Tudo começou em 1309, o Papa Clemente V, que era francês, transferiu a sede da Igreja Católica de Roma para Avignon (no sul da França), dando início ao período conhecido como o Papado de Avignon (1309–1377).

Durante esse período, vários papas residiram na região, e o gosto deles por bons vinhos teve um grande impacto no desenvolvimento da viticultura local.

O maior entusiasta do vinho foi Papa João XXII, que mandou construir uma residência de verão em uma vila ao norte de Avignon chamada Châteauneuf.

Essa vila, depois de sua presença, passou a se chamar Châteauneuf-du-Pape, ou seja, “Castelo novo do Papa”.

Além do castelo, ele também incentivou e estruturou a produção de vinho na região, tornando-a uma das primeiras áreas com cultivo de videiras de prestígio na França.

LOCALIZAÇÃO – Châteauneuf-du-Pape fica no Vale do rio Rhône, mais especificamente no sul dessa região. Os solos locais são famosos pelos “galets roulés” – pedras arredondadas trazidas pelos glaciares, que retêm calor durante o dia e aquecem as vinhas à noite. O clima é quente e seco, ideal para uvas ricas em açúcar e taninos.

A reputação de qualidade dos vinhos locais começou ainda com os papas, se fortalecendo com o tempo. Quando a AOC Châteauneuf-du-Pape foi oficializada em 1936, ela se tornou uma das primeiras denominações controladas da França — símbolo da seriedade e qualidade da região.

UVAS – A AOC Châteauneuf-du-Pape permite até 13 variedades de uvas (ou até 18, dependendo da contagem que se faz com mutações). As principais são:

Tintas: Grenache (a mais importante), Syrah, Mourvèdre e Cinsault.

Brancas: Grenache Blanc, Roussanne, Clairette e Bourboulenc.

A maioria dos vinhos Châteauneuf-du-Pape são tintos, mas também há vinhos brancos, menos comuns, mas muito interessantes.

Uma curiosidade é que os rótulos dos vinhos Châteauneuf-du-Pape muitas vezes trazem um símbolo papal, como a tiara papal e as chaves de São Pedro, em homenagem a esse passado.

ESTILO – Os tintos normalmente são encorpados, com taninos macios, alta complexidade aromática (frutas vermelhas e pretas, especiarias, ervas secas e um toque que lembra garrigue – vegetação típica da região). Com o tempo, ganham notas de couro, tabaco e terra. Já os brancos são ricos, untuosos, com notas de frutas brancas, flores e um toque mineral. Pode envelhecer muito bem.

Geralmente, o Châteauneuf-du-Pape tinto é um assemblage (mistura) de várias uvas, com predominância da Grenache. O uso de barris de carvalho é moderado, para preservar o caráter frutado e o terroir. Muitos produtores usam tanques de cimento ou foudres (tonéis grandes).

Os tintos podem envelhecer de 10 a 20 anos ou mais, dependendo do produtor e da safra. Os brancos também têm potencial de guarda, especialmente os feitos com a uva Roussanne.

HARMONIZAÇÃO – Os tintos são indicados para serem acompanhados por carnes de cordeiro, pato e javali, além de ensopados e queijos curados. Os brancos vão bem com pratos mais ricos como peixe grelhado, aves com molhos cremosos e queijos.

Entre os principais produtores da AOC estão o Château de Beaucastel (um dos pouquíssimos produtores que usa todas as uvas permitidas), Domaine du Vieux Télégraphe, Clos des Papes, Domaine Pegau e Domaine de la Janasse.

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