Por: Fabiana Gonçalves | @escrivinhos
Além da sua beleza natural, a região da Toscana, no centro-oeste da Itália, é reconhecida pela variedade e qualidade de seus vinhos. Um desses vinhos é o Chianti, considerado um dos mais icônicos daquele país. O Chianti (pronuncia-se “quianti”) é um vinho tinto elaborado pelo menos 70% da uva Sangiovese, mas que também pode ter em sua composição as variedades Canaiolo, Colorino, Cabernet Sauvignon e Merlot. Bastante gastronômico e de perfil fresco e vibrante, é apreciado em quase todo o mundo.
A história do Chianti remonta a séculos, com referências que datam do século XIII. Inicialmente, o vinho era uma mistura de uvas brancas e tintas, mas ao longo do tempo, a Sangiovese tornou-se a variedade predominante. Hoje, para que um vinho seja oficialmente denominado “Chianti”, ele deve atender aos requisitos da Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG) específica.
As classificações do Chianti se dão de acordo com diferentes sub-regiões na Toscana, cada uma com suas características específicas. Essas categorias são:
CHIANTI DOCG – Abrange uma ampla área da Toscana, incluindo várias sub-regiões. Deve conter pelo menos 70% de Sangiovese, com o restante composto por outras uvas autorizadas, como Canaiolo, Colorino, e até uvas internacionais como Cabernet Sauvignon e Merlot. Este é o estilo mais acessível de Chianti, com sabores de frutas vermelhas frescas, acidez pronunciada e taninos moderados. É geralmente um vinho jovem, voltado para o consumo imediato. Não tem requisitos de envelhecimento específico, sendo frequentemente lançado no mercado pouco tempo após a vinificação.
CHIANTI CLASSICO DOCG – Produzido na zona histórica e mais antiga de Chianti, localizada entre Florença e Siena. Deve conter pelo menos 80% de Sangiovese, com o restante composto por outras variedades permitidas, como Colorino e Canaiolo. Os vinhos tendem a ser mais complexos e estruturados, com notas de frutas maduras, especiarias, e um toque terroso característico. Geralmente, são vinhos mais elegantes e refinados em comparação ao Chianti DOCG. Deve ser maturado por pelo menos 12 meses antes de ser lançado no mercado.
CHIANTI CLASSICO RISERVA DOCG – Também produzido na zona histórica do Chianti Classico. Para as uvas, as mesmas regras do Chianti Classico são aplicadas, com pelo menos 80% de Sangiovese. Este vinho é mais encorpado e possui maior complexidade, com sabores de frutas escuras, couro, tabaco e especiarias. O processo de envelhecimento prolongado confere maior profundidade e estrutura ao vinho. Requer um mínimo de 24 meses de maturação, com pelo menos três meses adicionais em garrafa antes de ser comercializado.
CHIANTI CLASSICO GRAN SELEZIONE DOCG – Exclusivo da zona histórica do Chianti Classico, deve ser feito 100% com uvas cultivadas na propriedade do produtor, sendo obrigatório ter pelo menos 80% de Sangiovese. Este é o nível mais alto de Chianti Classico, com vinhos de grande elegância, complexidade e longevidade. Apresenta um perfil aromático e gustativo muito refinado, com notas de frutas negras, especiarias, ervas secas e toques minerais. Exige um mínimo de 30 meses de maturação, incluindo pelo menos 3 meses em garrafa.
CHIANTI SUPERIORE DOCG – Pode ser produzido em qualquer sub-região de Chianti, exceto na zona do Classico. As regras de composição de uvas são similares ao Chianti DOCG, com pelo menos 70% de Sangiovese. O Chianti Superiore tende a ser mais encorpado e concentrado que o Chianti DOCG normal, oferecendo maior complexidade e potencial de envelhecimento. Deve ser maturado por pelo menos nove meses antes de ser comercializado.
CHIANTI RUFINA DOCG – Vem de uma sub-região específica de Chianti, localizada a nordeste de Florença. As uvas usadas são similares às do Chianti DOCG, com pelo menos 70% de Sangiovese. Esses vinhos são conhecidos por sua acidez vibrante e capacidade de envelhecimento, muitas vezes apresentando um perfil mais elegante e mineral devido ao clima mais fresco e à altitude da região. São vinhos que beneficiam de algum tempo de maturação, podendo esse período ser variado.
CHIANTI COLLI SENESI DOCG – É uma das sub-regiões mais importantes dentro da denominação de origem Chianti DOCG. “Colli Senesi” significa “colinas de Siena”, indicando que esses vinhos são produzidos nas áreas ao redor da cidade de Siena, na Toscana. Como em outras partes de Chianti, o Colli Senesi deve conter pelo menos 70% de Sangiovese. As uvas complementares podem incluir Canaiolo, Colorino, e até variedades internacionais como Merlot e Cabernet Sauvignon. É conhecido por sua frescura e vivacidade, muitas vezes apresentando aromas e sabores de frutas vermelhas, como cereja e framboesa, com toques de ervas e especiarias. Devido à proximidade com Montalcino e Montepulciano, muitos desses vinhos possuem uma profundidade e estrutura maior, com taninos presentes, mas bem integrados. O Chianti Colli Senesi não tem requisitos de maturação tão rigorosos quanto o Chianti Classico, mas os produtores podem optar por envelhecer o vinho por um tempo para adicionar complexidade. Existe também o Chianti Colli Senesi Riserva, que exige pelo menos 24 meses de envelhecimento.
VIN SANTO DEL CHIANTI DOC – O Vin Santo é um vinho de sobremesa tradicional da Toscana, e o Vin Santo del Chianti é uma das variações mais conhecidas desse estilo, produzido na região de Chianti. É um vinho doce, muitas vezes com uma história rica e um processo de produção artesanal que remonta a séculos. As uvas típicas para sua produção incluem Trebbiano e Malvasia, que são variedades brancas. Em alguns casos, pode ser usado um pouco de Sangiovese. Essas uvas são secadas ao sol e a fermentação ocorre em barricas de madeira.
A LENDA DO GALLO NERO
Não podemos falar de Chianti e deixar de contar essa fascinante história que está intimamente ligada à zona de produção do Chianti Classico. A lenda remonta à Idade Média, quando as cidades de Florença e Siena estavam em constante disputa pelo controle da região de Chianti.
Para resolver essa disputa territorial de uma forma menos violenta, foi acordado que dois cavaleiros, um de cada cidade, partiriam ao amanhecer, assim que o galo cantasse, e o ponto onde se encontrassem determinaria a nova fronteira entre os dois territórios.
Para ganhar vantagem, os florentinos escolheram um galo negro que foi mantido em jejum e na escuridão por vários dias. Quando o dia do desafio chegou, o galo, faminto e agitado, começou a cantar muito cedo, antes mesmo do nascer do sol. Isso permitiu que o cavaleiro florentino partisse antes e cavalgasse uma distância muito maior. Como resultado, ele encontrou o cavaleiro sienense muito perto de Siena, assegurando para Florença a maior parte da região de Chianti.
Por causa dessa lenda, o Gallo Nero tornou-se o símbolo do Chianti Classico, representando a vitória de Florença sobre Siena. Hoje, a figura do galo negro é exibida nos rótulos das garrafas de Chianti Classico, garantindo que o vinho foi produzido na zona histórica e respeita os padrões de qualidade.
HARMONIZAÇÕES
Os vinhos Chianti são versáteis e, graças à sua acidez vibrante, taninos presentes e perfil frutado, combinam bem com muitos pratos, especialmente da culinária italiana.
Os Chianti mais jovens, como o Chianti DOCG, vão bem com massas à base de molho de tomate, pizza margherita e bruschettas.
O Chianti Classico harmoniza com carnes vermelhas grelhadas, molhos à bolonhesa e pratos com cogumelos.
Já o Chianti Riserva casa com carnes de caça, queijos maduros e pratos à base de trufas.
Para o Chianti Superiore escolha uma lasanha ou carnes assadas.
O Chianti Colli Senesi combina com risoto de pato ou risoto de funghi. Também vai bem com queijos de meia cura.
Para o Gran Selezione, escolha um ossobuco, pratos com cogumelos ou filé com trufas.
E, para a sobremesa, um Vin Santo del Chianti acompanhado de biscoitos de amêndoa ou pão de ló. Frutas secas e queijos azuis também são uma boa harmonização.