Por: Fabiana Gonçalves | @escrivinhos
Quando falamos nas uvas Chardonnay e Pinot Noir é impossível não remeter à região da Borgonha, de onde ambas as variedades são nativas. A Borgonha (ou Bourgogne) fica no leste da França e tem como capital a cidade de Dijon. Possui uma longa história de produção vinícola, remontando a mais de mil anos. Alguns dos vinhedos mais reconhecidos da região foram cultivados por monges cistercienses durante a Idade Média.
Pinot Noir e Chardonnay são as uvas mais importantes cultivadas na Borgonha. Os tintos feitos com Pinot Noir são conhecidos por sua elegância, complexidade e capacidade de envelhecimento. Eles geralmente têm sabores de frutas vermelhas, como cerejas e morangos, com notas terrosas e especiarias.
Já os brancos elaborados com Chardonnay são alguns dos mais elegantes e refinados do mundo, com sabores que podem variar de frutas cítricas a maçãs e peras, além de notas de amêndoas, manteiga e minerais.
Os vinhos da Borgonha são classificados da seguinte forma:
Grand Cru: A classificação mais alta, representando apenas cerca de 1% da produção total, com vinhos das vinhas mais prestigiadas.
Premier Cru: Vinhos de alta qualidade, produzidos em vinhedos classificados um pouco abaixo dos Grand Cru.
Village: Vinhos que vêm de vinhedos em torno de uma vila específica e têm características típicas dessa área.
Regional: Vinhos que podem ser produzidos em qualquer lugar da Borgonha e são rotulados como AOC Bourgogne.
A região é famosa por seu terroir, que se refere à combinação de solo, clima, topografia e outras condições naturais que influenciam o sabor e a qualidade das uvas. Os vinhedos da Borgonha são divididos em pequenas parcelas chamadas “climats”, cada uma com características distintas que produzem vinhos com perfis únicos.
Esses vinhedos são geralmente pequenos, muitas vezes com áreas limitadas de produção, especialmente nos vinhedos classificados como Grand Cru e Premier Cru. Além disso, as condições climáticas na Borgonha podem ser imprevisíveis, afetando o rendimento anual das colheitas. Essa produção limitada contribui para a raridade dos vinhos.
A Borgonha é dividida em várias sub-regiões vinícolas, que formam uma verdadeira rota dos vinhos, conectando as principais vilas vinícolas e vinhedos:
Chablis: Localizada no norte da Borgonha, é conhecida por seus vinhos brancos secos e minerais feitos exclusivamente de Chardonnay.
Côte de Nuits: Conhecida como “os Champs-Élysées da Borgonha”, esta rota se estende de Dijon a Nuits-Saint-Georges, passando por vilarejos famosos como Gevrey-Chambertin e Vosne-Romanée. Aqui, os visitantes podem degustar alguns dos vinhos tintos mais prestigiados do mundo.
Côte de Beaune: Esta rota continua ao sul de Nuits-Saint-Georges até a cidade de Beaune e além. A região é conhecida por seus vinhos tintos e brancos, com paradas obrigatórias em Meursault, Pommard e Puligny-Montrachet.
Côte Chalonnaise: Menos conhecida, mas igualmente encantadora, esta rota passa por vilarejos como Mercurey e Givry, onde os visitantes podem provar vinhos de excelente qualidade e bom custo-benefício.
Mâconnais: No extremo sul da Borgonha, esta rota é famosa por seus vinhos brancos de Chardonnay, especialmente em torno de Pouilly-Fuissé.
VALOR ELEVADO – Os vinhos da Borgonha são altamente cobiçados por colecionadores, enófilos e críticos de vinhos em todo o mundo. A alta demanda, especialmente por vinhos de produtores renomados e parcelas de vinhedos de alta qualidade, supera a oferta limitada, resultando em preços elevados. Leilões de vinhos da Borgonha frequentemente atingem valores impressionantes.
A viticultura na Borgonha pode ser intensiva em mão-de-obra e cara, especialmente para produtores que seguem práticas biodinâmicas ou orgânicas. A atenção meticulosa aos detalhes, desde o cuidado com as videiras até o processo de vinificação, contribui para o custo final dos vinhos. Além disso, muitos dos produtores mais prestigiados envelhecem seus vinhos por longos períodos antes de liberá-los para venda, o que também aumenta os custos.
ENOTURISMO – Muitas vinícolas na Borgonha oferecem visitas guiadas, onde os turistas podem aprender sobre o processo de vinificação, explorar as adegas e, claro, degustar vinhos. Alguns destinos que podem ser explorados são:
Domaine de la Romanée-Conti: Embora as visitas sejam extremamente limitadas e difíceis de agendar, qualquer oportunidade de visitar esta vinícola lendária é uma experiência inesquecível.
Hospices de Beaune: Esta instituição caritativa histórica realiza um leilão anual de vinhos que atrai compradores de todo o mundo. Os visitantes podem explorar o edifício medieval e as adegas.
Domaine Leflaive: Em Puligny-Montrachet, é possível participar de degustações que exploram a profundidade dos vinhos brancos da Borgonha.
GASTRONOMIA – A Borgonha é tão conhecida por sua comida quanto pelos seus vinhos. Visitar a Borgonha é uma oportunidade para saborear pratos tradicionais como boeuf bourguignon, escargots de Bourgogne, e coq au vin, sempre acompanhados pelos vinhos locais.
A região abriga vários restaurantes renomados que combinam os melhores vinhos da região com culinária de classe mundial. Cidades como Dijon e Beaune têm mercados onde os visitantes podem experimentar e comprar produtos locais, incluindo queijos, trufas e mostardas.